segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Legends : Neil Peart - Um adeus ao professor...


Pois é, meus amigos. Sexta-feira passada, mais precisamente dia 10 de janeiro,  veio a notícia que nenhum baterista que se preze gostaria de ouvir. Que três dias antes falecera um dos bateristas mais amados da história do instrumento...Neil Peart.

Recebi a notícia enquanto bebia com um casal de amigos. Meu outro querido amigo,  Jean, jornalista, prontamente me enviou uma mensagem no WhatsApp..."Neil Peart morreu cara...". Coloquei o celular no chão e a mão na cabeça. Meu amigo Apolo, que estava do meu lado, também é musico e mesmo não sendo fã de Rush, entendeu meu silencio, que durou alguns minutos. Sua namorada voltava do banheiro, viu minha feição e  logo perguntou se eu estava bem. Obviamente não estava. Nenhum baterista nesse planeta estava....





Meu primeiro contato com o Rush veio por influência de meu pai. Ele tinha na sua coleção de LPs os discos "A Farewell To Kings", "Caress Of Steel" , "Moving Pictures" e o de que mais tenho recordação, "Fly By Night". Não só pela coruja brava, mas pelo som. Eu, com poucos anos de vida,  chamava o Geddy Lee (baixo, vocal) de "bruxa". Pela foto da contracapa e é claro, por sua voz extremamente aguda. Eu já curtia o som deles, mas só fui virar fã mesmo no começo dos anos 2000, quando rolou a notícia de que o trio viria pra cá pela primeira vez. Justamente a época em que eu comecei a tocar bateria.


Minha influências na bateria desde o início foram John Bonham, Ian Paice,  Mick Tucker,  do Sweet , Bill Ward, Keith Moon, Peter Criss, Cozy Powell, etc. Minha escola era o rock pesado dos anos 70 e depois fui descobrindo outros bateras como Stewart Copeland, Jeff Porcaro, Tommy Aldridge, Tommy Lee, etc.

Os bateras da época eram todos fissurados em Mike Portnoy. Eu nunca gostei de Dream Theater. Achava o estilo de Portnoy muito técnico e com pouco feeling, e obviamente, esses bateras acabavam descobrindo Neil Peart através dele, pois era seu grande ídolo. Confesso que era mais fácil eu tocar junto com "Living Loving Maid" do Zeppelin II do que "La Villa Strangliato" do Hemispheres (risos).  As horas que eu gastaria tentando tocar uma música do Rush eu poderia aprender umas 6 de outras bandas, tamanha era a destreza de Peart. Claro que eu tava vacilando, né?




Quando a minha primeira banda, chamada Love Hunter começou a ensaiar, Fabio Adele, que era o vocalista, amava Rush como a própria mãe. Isso me inspirou a pegar os discos do meu pai e tentar aprender algumas levadas e viradas do mestre. Claro que sem a precisão dele, eu conseguia aos poucos "tirar" algumas coisas do Rush e me maravilhar com a técnica, força, criatividade e principalmente a paixão que Peart colocava em seus fraseados. Foi um triunfo conseguir tocar "YYZ" pela primeira vez...triunfo orgasmico....

Além do monstruoso baterista, Neil Peart foi um dos melhores letristas do Rock. Quebrando o paradigma de que "todo batera é burro e beberrão" e outras piadas sem graça que outros músicos faziam sobre a gente. O intelecto do cara era de um nível que nós, meros mortais, queríamos ter uns 15% e já morreríamos felizes. Até hoje gosto de ouvir os discos do Rush acompanhando as letras e tentando interpretar o que Neil queria dizer. Nem sempre consigo né, mas nem só de coisas complicadas eram feitas as coisas do Rush. Ele também sabia se expressar de forma simples e objetiva, como na pesadissima "Red Sector A", "Nobody's Hero", "Closer To The Heart" e diversas outras.





Infelizmente, não consegui ver um show do Rush, o que me deixa mais triste ainda. Não só queria curtir os clássicos imortais, mas também ver aquele que é simplesmente "O SOLO" de bateria. Desde sempre, eles foram um show a parte no espetáculo que eram as apresentações do trio. Sempre musical, criativo, com diversos temas encaixados de forma magistral e aquela pegada maravilhosa. Ninguém ousaria ir  fazer xixi ou buscar cerveja durante o solo dele. Ninguém. E isso diz muito, ah como diz...


Todos que conhecem a história do trio, sabem que Peart passou por algumas tragédias de cunho imensurável, perdendo a filha em um acidente automobilístico e a esposa para um câncer em um curto espaço de tempo. Ele pegou sua moto e rodou milhares de quilômetros tentando achar sentido para sua vida e acabou escrevendo dois livros maravilhosos. Também era notório o fato de que ele detestava a vida pública e os holofotes, como ele conta na faixa "Limelight". Ele só queria saber de tocar batera, de escrever suas letras e entregar o melhor possível para aqueles que pagavam para vê-lo ao vivo ou obter seus discos.

Tanto que foi mantido em segredo que ele lutava contra um câncer no cérebro. Ninguém imaginava. É uma doença literalmente desgraçada...

 Não tá sendo fácil escrever esse texto. Eu sei que existem por aí na net vários bem mais elaborados, com detalhes da vida e obra dele, mas eu preferi escrever sobre a minha experiência com essa banda maravilhosa e esse batera que é incomparável, insubstituível e que deixa um legado enorme, que inspirará gerações de jovens bateristas e músicos em geral, como foi meu caso e de milhares e milhares de pirralhos espalhados pelo mundo. O homem se foi, mas sua obra ao lado de Alex Lifeson e Geddy Lee, para a nossa sorte, continua e pra sempre...obrigado Neil Peart....obrigado professor....




Deixo aqui uma playlist do Spotify com algumas das minhas músicas favoritas do Rush :


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